a dor de perder alguém que ainda está vivo

recentemente me peguei pensando sobre como a gente perde uma pessoa que ainda está viva? pode ser para uma doença, estranhamento, separação, para o abandono, para alguma dependência.

oii eu sou a nina e hoje eu vou contar sobre como é perder uma pessoa ainda viva para o alzheimer.

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antes de tudo, o que é o alzheimer? é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.

e quem eu perdi assim? minha avó.

é muito doido pensar que de uns anos para cá a minha vó parece que não é a minha vó, o que é estranho porque é uma pessoa completamente diferente da pessoa que eu costumava conhecer, mas essa pessoa nova pode ser alguém que ela era e eu nunca conheci ou é a pessoa que ela sempre quis ser.

só que ao mesmo tempo eu sinto que ela é a mesma que sempre foi, só que mais introspectiva, ainda tem coisas muito peculiares dela que ainda existem ali, por exemplo elas ser uma amante do cafezinho da tarde, adora ler um livro, ser uma pessoa que ainda gosta de se cuidar e acima de tudo uma pessoa carinhosa.

ela adoeceu da pandemia e eu assisti tudo acontecendo diante dos meus olhos, porque eu estava tendo aula no ead e ela por conta da idade era grupo de risco então ficava eu e ela em casa juntas.

eu tenho a sensação de que eu tenho que estar o tempo todo protegendo-a, então eu fico preocupada com tudo, ela tem uma tosse e eu já entro em desespero, é uma preocupação extrema sendo que minha vó ainda é uma pessoa que ativa, que vive bem, ela tem uma certa dependência, mas não é tanto igual minha mente faz crer que é.

há uma certa estranheza ao sentar-se com ela na sala, e ela não se lembrar de quem eu sou ou da novela que está passando na televisão, das coisas que ela gostava de fazer tipo jogar buraco ou fazer seu café.

eu tenho diversas memorias com minha avó, a gente adorava sair juntas para gastar dinheiro, sempre saímos para almoçar, ficávamos até altas horas da noite assistindo televisão e simplesmente aproveitando a companhia uma da outra, como ela sempre cuidou de mim e agora sou eu quem cuida dela.

eu já falei disso na psicoterapia, como eu sinto minhas lembranças mais fortes começam a partir do momento em que ela se muda pra nossa casa e que ela começa a adoecer, acredito que seja porque eu já estava com meus 15/16 anos, mas eu entendo isso não deixa de ser uma parte da nossa história que sempre foi muito bonita e que eu sempre vou me emocionar ao falar sobre ela.

viver com uma pessoa que tem alzheimer te desperta sentimentos ambos ambíguos, a felicidade por aquela pessoa estar bem, dento das possibilidades, estar viva, ao seu lado mesmo que distante, mas ao mesmo tempo o sentimento de tristeza, um sofrimento pessoal de ver como as coisas foram esquecidas e também vendo esse outro sofrendo, porque sim a pessoa com alzheimer sofre muito.

quando eu falo de perder alguém que está vivo, quero dizer que, no meu caso, se tornou uma pessoa apática, neutra, que sim tem seus momentos de humos felicidade ou tristeza, mas que eu perdi quem ela era e ela também se perdeu.

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